Sábado
parcialmente nublado, tarde gostosa e antes mesmo de o sol se por, estávamos
saindo do parque do sabiá após a realização de mais um fórum de diálogo de
educadores. Muitas questões passaram pela minha cabeça, e uma reflexão em
especial me chamou a atenção: Como foi oportuno aquele encontro! Deixe-me
relembrar...
No dia do
encontro especificamente, a mudança do verão para o outono. À nossa volta no
parque, muita vida como árvores, crianças, animais, elementos da natureza como
a água, o sol, o vento, etc... um ambiente maravilhoso!
Iniciamos aquele
encontro à tarde, depois das 14 horas cantando melodias propostas por nossa Maria
Claudia, e me veio à cabeça: Há quanto tempo não tínhamos a oportunidade de
cantar juntos ao ar livre?!? Como ela havia dito no dia, o ato de pronunciarmos
as cantigas, está para além de credos religiosos!
Independentemente
das palavras em ritmo terem vindo de uma tradição indígena, ou de mantras de
países orientais, somos seres singulares entre o céu e a terra, enfatizou Maria
Claudia naquela oportunidade.
Observei com
aquela experiência uma afinidade muito grande entre os componentes do grupo, o
ofício profissional! Somos professores de crianças, jovens e adultos. Temos
práticas teatrais, um ofício desafiador, o que me fez lembrar, das lavanderias
do Vale do Jequitinhonha, e do canto celebrado pelo homem em tantas partes
distintas do mundo.
Interrompi por um
instante minhas lembranças do passado. Desejei um ato presente – iniciar a
leitura do volume literário que cada um dos participantes foi presenteado no
encontro, “Poesia dos olhos”.
Depois da leitura, transcrevi dois trechos interessantes da
leitura que realizei. – O menino que está
pesquisando o que é poesia e encontra a avó "a quem as pessoas não davam
muito crédito por estar com a testa povoada de rugas" (p.61). Ela responde
à pergunta do menino: "Poesia é como um jeito que a gente dá o
coração." E mais adiante... "E estando assim cheia e vazia ao mesmo
tempo, a pessoa acaba escrevendo, cantando, dançando, deixando escapar para o
mundo o que sente, fazendo o invisível aparecer. Poesia é um jeito, amor que a
gente vê no mundo e devolve ao mundo" (p. 62).
As pessoas reunidas
de quem nos referimos acima (antes de parar para a leitura do livro e do trecho
em azul, alinhado por minha conta à direita) são todas fazedoras de
"poesia" e voltei-me então a elas no momento do fórum, focalizei o
instante após a entrega de descrições de algumas ações em andamento no projeto
Partilhas, Ateliês e redes de cooperação, e então iniciamos o momento da roda
de conversa, com um tema muito sugestivo: “A Aprendizagem em Teatro e a
educação inclusiva”, e para tal discussão, dirigimo-nos para um quiosque do
parque próximo à entrada principal onde estávamos até então.
Elegemos o
quiosque, que tinha uma mesa e um banco de concreto, o nosso novo “quartel
general”. Colocamos tecidos para forrar o gramado ao lado, e distribuímos sobre
eles lanches que bebidas que trouxemos de casa.
Sentamo-nos no
chão. Éramos (pela sequência em que registramos os nomes na lista presença): Fabinho,
Juliana, Ricardo, Gabriela, Valéria, Giovanna, José Luiz, Marcelo, Maria
Claudia, Keila, Maíra, Getúlio e eu, Vilma Campos!
Para início de
conversa sobre o tema “A Aprendizagem em Teatro e a educação inclusiva” uma
dificuldade de terminologias na própria educação inclusiva, pois como foi dito
pelos presentes, há uma mudança constante de nomenclaturas. Independentemente
da qual usarmos, fica no ar sempre a sensação de que não contempla a
complexidade humana. De "portadores de necessidades especiais" a
"deficientes", poderemos incluir toda e qualquer pessoa, pois cada
ser é único e não há no mundo que tenha uma eficiência plena, única e que não
precise do outro.
Seguindo com nossa
prosa, chegamos a uma expressão que embora possa parecer longa, nos ajudou muito
nos compartilhamentos, nos referíamos "a pessoas com necessidades
especiais mais explícitas e diagnosticadas pela medicina." Foram vários e
diversos os contextos e exemplos expostos, os que se colocaram ou não, os que
estão ou não diretamente envolvidos com esse público alvo, nesse momento do
trabalho.
Para mim foi um
momento muito significativo porque realmente senti-me no meio da taba e a uma
acepção da palavra "fórum" que me lembrou justamente a discussão dos
assuntos comuns que envolvem uma determinada coletividade.
No debate e
relatos de experiência apresentou-se um panorama envolvendo escolas públicas na
periferia, escolas particulares ou associações específicas; crianças, jovens,
adultos ou faixas etárias diferentes em um mesmo grupo; equipe de apoio
presente ou ausente; pais engajados ou com dificuldades de aceitação da
condição de seus próprios filhos.
Independentemente
dos níveis de dificuldade que todos, temos e das possibilidades, de cada
estrutura que cada um vive, dos limites "no passar a mão na cabeça"
dos aprendizes, entre outros pontos, foram momentos de troca, sem julgamentos
de valor e com bom humor, como me pareceu ser adequado para quaisquer
experiências de partilha.
Nosso
próximo encontro
Imaginamos no
encontro as possíveis ações futuras que o projeto pode realizar, por exemplo, o
encontro dos projetos "Dançando pela vida" (Fabinho), Grupo na APARU
(Juliana) e E.M. Presidente Itamar Franco (José Luiz). Importantes forças de
ligação que podem surgir nessa corrente, para além do momento do Fórum. Nosso
encontro ficou com "gostinho de quero mais", e, já no momento final
de preparação do próximo encontro, acordamos que o XVI Fórum de Educadores de
Teatro será às 14 h na Academia Ritmo Dança de Salão (R. Javari, 153 - Jd
Lídice,) dia 26 de abril.
Na primeira
metade do trabalho, Fabinho conduzirá as atividades práticas e participaremos
juntos com o grupo que ele trabalha. A equipe do projeto que se reúne
semanalmente e/ou qualquer educador também pode contribuir com um momento de
condução. Basta sinalizar com antecedência com o Fabinho e equipe do projeto
para a organização do tempo, espaço e material. Na segunda metade do encontro,
todos os educadores estão convidados a levarem imagens de trabalhos realizados
com os seus grupos de trabalho "que contenham pessoas com necessidades
especiais mais explícitas e diagnosticadas
pela medicina". Levaremos computador e projetor para o encontro. Os do
grupo do Fabinho, serão convidados a continuarem conosco, se quiserem e
puderem, na segunda metade. É provável que esse compartilhamento não só
finalize o primeiro tema, mas seja também "a deixa" para um novo
assunto no XVII Fórum.
Finalizamos a
roda com o relato espontâneo da Keila, professora de História que participou
pela primeira vez do Fórum. Ela compartilhou conosco o relato de que se sentiu
acolhida pelo grupo e que o formato foi bem diferente do que ela imaginou inicialmente (algo formal para o nome "fórum"). Que bom que tenha estado conosco (assim como todos os outros que vieram). Espero que Keila possa comparecer aos encontros seguintes, assim como outras pessoas que não chegaram ainda ou que não puderam estar nessa tarde.
Todos os educadores que tenham afinidade com as práticas teatrais, independentemente de suas áreas de formação de origem, são muito bem vindos para que possamos continuar a nos aproximar e para que possamos continuar a ter momentos de partilhas e de cooperação entre nós.
Att, Professora Vilma Campos e equipe do Projeto Partilhas Teatrais
Uberlândia, 26 de Março de 2014
ABAIXO, IMAGENS DO ENCONTRO...